Sinopse: Agatha Christie nos leva a uma viagem repleta de luxo e intriga a bordo do famoso Trem Azul, que percorre a rota da Riviera Francesa. Ruth Kettering, uma rica herdeira americana, está entre os passageiros do trem, transportando consigo um valioso rubi conhecido como "Coração de Fogo". No entanto, sua jornada toma um rumo trágico quando Ruth é encontrada morta em sua cabine, e a preciosa joia desaparece misteriosamente. Hercule Poirot, o detetive belga que também está a bordo, é chamado para investigar o caso. À medida que ele mergulha nas vidas dos passageiros e nos segredos que cada um esconde, Poirot deve desvendar uma teia complexa de enganos, ciúmes e traições. Com sua mente perspicaz e atenção aos detalhes, ele começa a ligar as pistas que apontam para um assassino frio e calculista, determinado a não ser descoberto.
CAPÍTULO 1
O Homem de Cabelo Branco
Era quase meia-noite quando um homem atravessou a Place de la Concorde. Apesar do vistoso casaco de pele que cobria sua figura diminuta, havia algo nele essencialmente frágil e repulsivo.
Um homem com rosto de rato, alguém poderia dizer, que jamais teria um papel de destaque ou seria elevado à distinção em qualquer esfera. No entanto, essa conclusão estaria errada, pois esse homem, insignificante e banal em aparência, desempenhava um papel proeminente no destino do mundo. Em um império governado por ratos, ele era o rei das ratazanas.
Naquele momento, uma embaixada aguardava seu retorno, mas ele tinha outros assuntos a tratar primeiro – assuntos que a embaixada desconhecia oficialmente. Seu rosto brilhava ao luar, branco e astuto, com uma leve curvatura no nariz fino. Seu pai fora um judeu polonês, um alfaiate oficial. E a natureza do negócio que o levara a sair à noite era algo que seu pai teria apreciado.
Ele chegou ao Sena, atravessou-o e entrou em um dos quarteirões menos respeitáveis de Paris. Ali, parou diante de um prédio alto e dilapidado e subiu até um apartamento no quarto andar. Mal teve tempo de bater antes que a porta fosse aberta por uma mulher que, evidentemente, aguardava sua chegada.
Ela não o cumprimentou, mas ajudou-o a tirar o casaco e o conduziu a uma sala mobiliada de maneira espalhafatosa. A luz elétrica, encoberta por sujas grinaldas cor-de-rosa, suavizava, mas não escondia o rosto da mulher, com maquiagem vulgar, e seu grosseiro aspecto mongólico. Não havia dúvida sobre a profissão de Olga Demiroff, nem sobre sua nacionalidade.
– Está tudo bem, querida?
– Tudo, Boris Ivanovich.
Ele balançou a cabeça, murmurando: